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 ENCONTRANDO ERROS EM NEMO

        Lançado em 2003 pela Disney Pixar, o filme “Procurando Nemo” conquistou milhões de fãs com a jornada do peixe-palhaço (Amphiprion sp.) chamado Marlin que, com a ajuda de sua mais nova amiga Dory,  uma peixe blue tang do Pacífico (Paracanthurus hepatus), parte a procura de seu filho Nemo, capturado por um mergulhador e levado ao aquário de um dentista em Sidney, na Austrália.

             Em meio a tantos desafios enfrentados pelos protagonistas, quem não se lembra da icônica cena onde Dory e Marlin são engolidos por uma baleia azul e em seguida expelidos pelo seu respiradouro, voltando sãos e salvos a sua busca? Porém, se estivéssemos presenciando esta cena no mundo fora da tela do cinema, o desfecho de nossos queridos peixinhos teria sido bem diferente...

Cenas do filme “Procurando Nemo” onde os protagonistas são engolidos por uma baleia azul. 

(Imagens: http://disney.wikia.com/wiki/Whale_(Finding_Nemo))

               Pois bem... a baleia azul (Balaenoptera musculus) é o maior animal vivente na Terra, podendo atingir impressionantes 33 m de comprimento e 190 toneladas! Aliás ela é o maior animal que já viveu no planeta! Maior do que qualquer dinossauro que já existiu! Ela alimenta-se basicamente de crustáceos conhecidos como “krill”, que captura filtrando grandes quantidades de água.

             Claro que neste processo a baleia azul pode ingerir outros animais, como peixes. Até aí o filme não errou. Mas então, deixando de lado o fato de que peixes não falam “baleiês”, haveria alguma possibilidade de escaparem de virar comida por um “descuido” da baleia em expeli-los pelo respiradouro? Bom, aí a história seria um pouco diferente, e vamos explicar por que.

            As baleias, embora vivam na água, são mamíferos e dependem do ar atmosférico para respirar. O processo de respiração começa com a baleia emergindo na superfície, então o orifício respiratório se abre permitindo a entrada de ar fresco. O famoso “esguicho” que se vê é apenas ar quente expelido dos pulmões que, quando em contato com o ar frio, se condensa, dando a impressão de um jato de água. Em seguida o respiradouro se fecha e ela volta a submergir. O ar atravessa as vias nasais, faringe, laringe e traquéia para finalmente chegar aos pulmões.

Detalhe do respiradouro de uma baleia no topo da cabeça

              Qual é então a falha do filme? Acontece que o processo de respiração das baleias ocorre de forma separada do processo de digestão. Em mamíferos terrestres a boca se liga ao esôfago passando pela faringe, que também é o caminho pelo qual passa o ar que chega a traqueia. Porém, nas baleias e golfinhos há um canal específico para respiração (do espiráculo aos pulmões) e outro para alimentação (da boca ao esôfago).

             Quando a baleia azul encontra um cardume de krills ela abre sua boca engolindo sua presa, junto com grandes volumes de água. Sulcos pregueados ao longo do pescoço e a barriga permitem que a garganta se infle como uma bolsa e comporte todo este volume. A baleia então contrai essa “bolsa”, e a água é pressionada para fora da boca, e não pelo respiradouro, como apareceu no filme. Assim ela prende o krill entre as cerdas bucais da maxila, coleta com ajuda da língua e engole.

Morfologia interna de uma baleia.

Adaptado de: http://animalrespriation.weebly.com/whale.html

         Enfim, se na vida real um peixe-palhaço ou um blue tang do Pacífico se deparassem com uma baleia azul, para sorte deles é bom que ela passe bem longe e simplesmente continue a nadar, continue a nadar...

Ah, e mais um detalhe... baleias não têm úvula (aquele apêndice pendurado na garganta, que nos serve como um alarme para evitar que os alimentos entrem na via respiratória ao engolir)!

Fontes consultadas e sugestões de leitura:

KARDONG, Kenneth V. Vertebrados: anatomia comparada, função e evolução. Roca, 2014.

REIS, Nelio Roberto et al. Mamíferos do Brasil. 2ª Edição.Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2011.

http://animalrespriation.weebly.com/whale.html (Último acesso em: 09/06/2017)

Texto

Raissa Prior Migliorini

Laboratório de Biologia de Mamíferos e Aves

Universidade Federal do Pampa

Em 03/10/2017

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