top of page

TAXIDERMIA

A arte de eternizar

         Dos radicais gregos, onde “taxi” significa forma e “derma” é pele, a taxidermia é a técnica de preparo, montagem e conservação da pele dos animais, podendo manter suas características de aparência em vida. Conhecida também pelo termo “empalhamento”, antigo nome popular para quando se utilizava palha e barro como preenchimento dos corpos, a técnica levou séculos de aperfeiçoamento até chegar ao que conhecemos hoje.

Uma história antiga

          O interesse pela manutenção de peles de animais surge na Europa do século XV. Com as grandes expedições marítimas cresce o conhecimento sobre o mundo natural. Muitos naturalistas e colecionadores da elite europeia passam a montar em suas residências coleções particulares compostas de variados itens vindos da África, Ásia e Novo Mundo, como conchas, fósseis, plantas e animais, especialmente pássaros. Nascem assim os chamados gabinetes de curiosidades, que viriam a ser os precursores dos atuais Museus de História Natural.

       Com o crescente interesse dos colecionadores por novidades surge a necessidade de melhores técnicas de preparo, armazenamento e transporte destes itens. A conservação correta especialmente dos animais era fundamental para o aumento e durabilidade das coleções. A principal luta dos naturalistas era conseguir um bom método que impedisse que as peles continuassem a ser atacadas por fungos e insetos.

        Muitas substâncias e processos foram testados: mergulho da pele em solução alcoólica, dessecação em forno, uso de venenos, corrosivos e substâncias aromáticas.  Porém, até a metade do século XVIII todas as técnicas se revelaram insatisfatórias para a preservação de longa duração, pois deterioravam as peles e não resolviam o problema das pragas.

           Foi em 1762 que os primeiros avanços significativos surgem, com a publicação do primeiro tratado de taxidermia da história (Traité Sur La Manière D’Empailler). Seu autor sugere que a raiz da resolução dos problemas estava na eliminação total da gordura presente nas peles. A remoção dos folículos de gordura, aliado ao tratamento da pele, permitiu que os animais pudessem ficar montados expostos e não apenas lacrados em caixa ou em vidros como antes.

Vale ressaltar que a palavra “taxidermia” propriamente dita só veio a ser cunhada no ano de 1800, aparecendo pela primeira vez em um tratado publicado pelo zoólogo francês François Marie Daudin.

         Em 1743 o farmacêutico Jean-Baptiste Bécoeur cria o sabão arsenical, muito eficiente na conservação das peles e contra o ataque de insetos. Sua fórmula só foi divulgada anos após sua morte, em 1793, quando se popularizou em coleções do mundo todo. Porém por ser muito tóxico para seres humanos, hoje está proibido seu uso pela comunidade museológica.

         É só no século XIX, nas mãos do escultor, naturalista e inventor nova-iorquino Carl Ethan Akeley que a taxidermia passa a ser vista como uma forma de arte. Se especializando em mamíferos africanos, ele inova ao “encaixar” as peles em esculturas meticulosamente moldadas dos corpos dos animais. Ele produz assim espécimes com visual incrivelmente realista, respeitando o formato da musculatura, rugas e veias. Não é para menos que hoje é considerado o “pai da taxidermia moderna” nos EUA. Suas mais famosas obras hoje estão expostas no Museu Americano de História Natural de Nova York.

O cenário da taxidermia atual

        Hoje a procura por serviços de taxidermia se dá por pessoas que desejam manter viva a lembrança de seus animais domésticos, bem como pescadores e proprietários de grandes animais que um dia foram campeões de competições. É praticada por profissionais que se consideram habilitados para o serviço, com conhecimentos variados como noções de anatomia e comportamento animal, artes plásticas e química.

          Em países onde a caça é permitida é comum encontrar exemplares taxidermizados à venda em lojas. No Brasil, devido à legislação isto não é comum. O usual é que animais provenientes de zoológicos e criadouros registrados que tenham vindo a óbito, ou mesmo os que sejam encontrados atropelados em estradas, sejam enviados a instituições científicas onde serão preservados, seja para pesquisa ou exposição.

    Os materiais utilizados nesse caso são variados. Uma estrutura de arame dá sustentação ao corpo e a pele é preenchida com estopa ou algodão. Para animais grandes podem ser feitos manequins com espuma de poliuretano. Próteses artificiais de olhos, dentes e língua são adicionadas para conferir mais realismo as peças.

Do antigo ao  novo

       Os museus carregam o papel de centros de estudo da biodiversidade. Mas, além disso, são importantes meios para prática da educação ambiental. Com o desenvolvimento da taxidermia, várias espécies da fauna de diferentes cantos do mundo puderam ser reunidas em um mesmo espaço. O trabalho em preparar os animais mantendo suas características e representação de suas atividades na natureza agregou valor educativo às peças.

   Além dos grandes museus, instituições científicas como universidades têm se dedicado, além de seus acervos destinados a pesquisas científicas, também à montagem de coleções biológicas didáticas, destinadas à exposição, divulgação e ensino.

<-- Quati (Nasua nasua), preparado no Laboratório de Biologia de Mamíferos e Aves, da Universidade Federal do Pampa

       A utilização de animais taxidermizados pode ser uma eficiente ferramenta de sensibilização para preservação ambiental e divulgação científica. A prática de exposições e oficinas em espaços públicos, por exemplo, alcança parcelas da sociedade que não costumam ter contato com os métodos científicos, instigando a curiosidade pelas ciências naturais, além de favorecer o conhecimento em torno da fauna regional.

Feira de Ciências Naturais, realizada no centro da cidade de São Gabriel (RS), por alunos da Universidade Federal do Pampa --> 

Fontes consultadas e sugestões de leitura

Auricchio, Paulo; Salomão, M. da G. Técnicas de coleta e preparação de vertebrados para fins científicos e didáticos. Instituto Pau Brasil de História Natural, São Paulo, p. 77-123, 2002.

 

https://www.taxidermidades.com/2012/06/cronologia-de-la-historia-de-la-taxidermia.html (Último acesso em 09/07/2018)

 

Madi Filho, J. M. I.Animais taxidermizados como materiais de ensino em fins do século XIX e começo do XX. Tese de Doutorado. Dissertação. 2013.

Texto

Raissa Prior Migliorini 

Laboratório de Biologia de Mamíferos e Aves- Universidade Federal do Pampa

Em 09/07/2018

bottom of page