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Um gato de muitos nomes

De coloração clara, uniforme e sem manchas escuras, forma esbelta, cauda longa, olhos de cor clara e ponta do focinho rosada. Assim é o puma... ou suçuarana... ou onça-parda... ou onça-vermelha... ou leão-da-montanha... ou ainda leão-baio… todos esses nomes atribuídos ao mesmo animal, ao segundo maior felídeo do continente americano!

Para a ciência a espécie foi denominada de Puma concolor. Ela apresenta variação de tamanho ao longo de sua distribuição geográfica, com comprimento total médio de 1,7 metros e pesando normalmente entre 34 a 72 kg. É um animal ágil em escalar árvores, saltar e pode correr até velocidades em torno de 60 km/h. Uma curiosidade é que os filhotes apresentam manchas escuras e olhos azuis até aproximadamente seis meses de vida, quando desaparecem dando lugar a pelagem uniforme bege acinzentada ou avermelhada.

Puma, onça-parda, suçuarana, leão-baio entre outros nomes são atribuídos a espécie conhecida como Puma concolor pela ciência (Foto: Projeto Onças do Turvo)

O puma possui uma das maiores distribuições geográficas dentre os mamíferos terrestres, ocorrendo desde o Canadá até o extremo sul da América do Sul. É considerado um dos felinos que mais se adaptou a diferentes tipos de ambiente, desde florestas tropicais, áreas montanhosas, regiões áridas e ambientes abertos. No Brasil está presente em todos os biomas. Embora adaptável, o puma sempre necessita da vegetação nativa para perseguir e emboscar suas presas e para encontrar locais seguros para criar seus filhotes.

No Rio Grande do Sul existem populações permanentes na região nordeste do estado, como nos Campos de Cima da Serra e no Parque Estadual do Turvo. Existem alguns registros destes animais na região central e na metade sul do estado, mas provavelmente são indivíduos solitários que estão ali de passagem, não formando população fixa. Como são animais solitários, costumam se encontrar apenas no período reprodutivo.

Em vermelho, área de distribuição atual do Puma concolor. Em amarelo, locais de possível presença da espécie.

(Fonte: IUCN Red List of Threatened Species 2015).

São animais ativos tanto à noite quanto de dia. Sua dieta é bastante variada, consumindo presas de diferentes tamanhos, desde veados, capivaras e porcos-do-mato até tatus, pequenos roedores, aves e répteis. Quando captura presas grandes que não consegue consumir em um único dia, costuma esconder o que restou tapando com vegetação e retornando ao local várias vezes para se alimentar. Perseguido por criadores de gado, sobretudo ovino, é muitas vezes morto por retaliação às perdas ou simplesmente para evitar possíveis perdas. Embora possam ocorrer problemas ocasionais em alguns locais, o fato é que um número muito maior de “cabeças” é perdido devido a manejo inadequado, ladrões e até mesmo mortos por cães domésticos, do que os causados pelo puma.

Pequeno parente

Apesar de seu tamanho se aproximar mais ao da onça-pintada, dados genéticos mostram que o puma, na verdade, é mais aparentado aos pequenos felinos como a jaguatirica e os gatos do mato. A Linhagem do Puma evoluiu de um ancestral em comum cerca de 6.7 milhões de anos atrás, sendo composta por três espécies, o puma (Puma concolor), o gato-mourisco (Puma yagouaroundi) e o guepardo (Acinonyx jubatus).

Originados da América do Norte, o guepardo posteriormente migrou para a Ásia e África. Enquanto isso o puma provavelmente divergiu do seu “irmão menor”, o gato-mourisco, antes da formação da ponte de terra entre as Américas do Norte e do Sul, permitindo que eles colonizassem toda a região. Hoje apenas o puma ainda é encontrado na América do Norte.

A seguir, conheça um pouco sobre esse pequeno felino que, embora pareça uma pequena versão do grande puma, tem características que o tornam uma espécie única entre os felinos americanos. Conheça o gato-mourisco!

Um felino um pouco diferente...

O gato-mourisco (Puma yagouaroundi), também conhecido popularmente como gato-preto ou jaguarundi, é um felino único em muitos aspectos. Por seu corpo alongado e delgado, cabeça proporcionalmente pequena, pernas curtas, orelhas pequenas e arredondadas e cauda longa, padrão de corpo atípico dos felinos, o gato mourisco costuma ser confundido com uma lontra ou uma irara.

Diferentemente das outras espécies, o mourisco não apresenta qualquer listra ou mancha em seu corpo, como rosetas ou pintas, em nenhuma fase da sua vida. Porém, esta espécie apresenta duas formas de coloração, uma que varia de preto a cinza/marrom (mais escura), e outra que varia de avermelhado a castanho (mais clara). Essa variação de cor pode aparecer em ambos os sexos e em filhotes de uma mesma ninhada.

Esta espécie ainda tem uma característica curiosa: além das vocalizações mais comuns que os gatos possuem como ronronar, miar e sibilar, eles emitem sons parecidos ao piar de um pássaro.

Gato-mourisco de coloração avermelhada, à esquerda (Foto: Projeto Onças do Turvo) e gato-mourisco de coloração escura, à direita (Foto: Carlos Benhur Kasper).

Diferente da maioria dos outros gatos, o mourisco possui hábitos de atividade mais diurnos, tendendo a ser o mais facilmente avistado pelas pessoas. Isto pode induzir a falsa impressão de que é uma espécie muito comum e abundante. Entretanto, estudos já demonstraram que ele é muito menos comum do que se imaginava.

O mourisco está presente desde o sul do Texas, nos Estados Unidos, até o sul da Argentina. Como seu parente mais próximo, o puma (Puma concolor), o mourisco é um predador generalista, se alimentando principalmente de pequenos mamíferos, aves e répteis e ocupando um espectro grande de ambientes. No Brasil ocorre desde o Pantanal, Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica até os Pampas do Rio Grande do Sul.

Por sua pelagem monocromática, os gatos-mouriscos não sofreram o mesmo destino das muitas espécies de gatos pintados que foram caçados para o comércio ilegal de peles por décadas. A principal ameaça à espécie é a perda e fragmentação de seus habitats, provocados especialmente pela expansão agropecuária. É considerada como Vulnerável (VU) no estado do Rio Grande do Sul, pela Lista Vermelha de espécies Ameaçadas do estado.

Fontes consultadas e Sugestões de leitura

 

Almeida, L. B.; Queirolo, D.; Beisiegel, B. M. & Oliveira, T. G. 2013. Avaliação do estado de conservação do gato-mourisco Puma yagouaroundi (E. Geoffroy Saint-Hilaire, 1083) no Brasil. Biodiversidade Brasileira, 3(1), 99-106.

 

Cavalcanti, S. M. C.; de Paula, R. C. & Gasparini-Morato, R. L. Conflitos com mamíferos carnívoros: uma referência para o manejo e a convivência. 2015. Brasília: Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, ICMBio. 121p.

 

de Azevedo, F. C.; Lemos, F. G.; de Almeida, L. B; de Campos, C. B.; Beisiegel, B. M; de Paula, R. C.;Junior, P. G. C.; Ferraz, K. M. P. M. B.& de Oliveira, T. G. 2013. Avaliação do risco de extinção da onça-parda Puma concolor (Linnaeus, 1771) no Brasil. Biodiversidade Brasileira, (1), 107-121.

Texto:
Raissa Prior Migliorini

Laboratório de Biologia de Mamíferos e Aves

Universidade Federal do Pampa

Em 23/05/2017

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